terça-feira, 29 de maio de 2018

Há algo de podre no Reino do Mestre Ubu


Ufano, imperial, impoluto, Mestre Ubu dos Três Olhos Offshores gritava havia muito aos sete ventos que o clube mais puro e vencedor de Portugal e do mundo era o seu. Lá não entravam a corrupção, as claques assassinas, a violência desbragada, a discórdia, era tudo metal fino, nada que cheirasse a Benfica. Mais: lá respirava-se saúde financeira a rodos.
Claro que os resultados no futebol de onze não eram abonatórios, nacional e internacionalmente, mas isso seria curado com crítica e eventual punição, coisas que o Mestre Ubu fizera conhecer aos jogadores a quem chamou meninos mimados
Porém, um dia certo jornal amante de escândalos tsunamicos anunciou que o clube do Mestre estava cheio de corrupção com resultados comprados no andebol e no futebol através do team manager. A polícia interveio, gente foi de imediato constituída arguida. Logo depois um grupo de energúmenos da Juve Leo invadiu Alcochete, destruiu e agrediu jogadores e técnicos, na sequência lógica de ameaças anteriormente feitas pelo Grande Líder - autor moral - aos jogadores de futebol de onze. 
Surgiu o terramoto. A porcaria revelada foi tão intensa, os estragos morais tão profundos, que logo apareceu gente querendo destronar o Mestre. Mas o espertalhão do Mestre demagogo juntou o seu Estado-Maior e passou ao contra-ataque, eliminando da oratória a corrupção, dando emprego a um porta-voz não menos falador do que ele e - para obter adesão emocional - transformando os inimigos internos em agentes do grande inimigo externo, com rosto bivalente, accionista e benfiquista. E lançou o alerta: se ele não continuasse a presidir o clube e surgisse uma assembleia-geral para o destituir, não seria possível obter um empréstimo obrigacionista de 18 milhões de euros, situação que poria o clube em dificuldades financeiras. Por outras palavras: afinal a prendada saúde financeira do clube está tuberculosa.
Porém, para gáudio do Mestre, os jornalistas da medíocre imprensa escandaleira rapidamente abandonaram o filão da corrupção (sempre na mira de certa imprensa quando se trata do Benfica), da violência em Alcochete e do empréstimo obrigacionista e agarraram-se, como lapas, ao fala-barato Mestre, à retórica do falador de longas tiradas à Castro. Assim, a imprensa fofoqueira fez do escroque o rei da media portuguesa, arauto de tudo menos da porcaria que o alimenta sem pausa nem desgosto, servido diariamente em menus abundantes e ruidosos. 
E se houver assembleia-geral lá para Junho - coisa para duvidar -, os jagunços do Mestre lá estarão para aplainar os ânimos e lubrificar as fidelidades.
No seu livro, Alfred Jarry pôs o Mestre Ubu a dizer o seguinte: "Eu ficarei no meio como uma cidadela viva e vós outros gravitareis em torno de mim".

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