segunda-feira, 7 de maio de 2018

Um aviso ao Homem do leme

Na vida por vezes é necessário parar e ouvir ou ler aqueles que em princípio parecem destinados à critica fácil e destrutiva.
Não me parece ser  o caso do texto retirado do blog papoila saltitante e que  aqui deixo à consideração e análise dos leitores:
Bruno Costa Carvalho
AS RAZÕES PELAS QUAIS O BENFICA NÃO FOI CAMPEÃO

Quem me segue habitualmente, sabe uma coisa: as minhas análises são sempre construtivas e visam evitar que os erros do presente sejam repetidos. Quero apenas uma coisa: o sucesso do Benfica, um Benfica com cada vez mais êxitos desportivos, com cada vez mais pujança económica e solidez financeira. Quero um Benfica com cada vez mais importância mundial e com mais mística, à altura dos valores que presidiram à sua fundação. Este é o meu objectivo com este texto.

Estas são linhas escritas por um Benfiquista para outros Benfiquistas. É um texto apenas para quem gosta do Benfica e se preocupa com o Clube. É um artigo longo, mas é para nós que amamos o Benfica e a ideia do que é o Benfica.

Quando não se ganha um campeonato há sempre um forte sentido de desilusão, mas esse sentimento é ainda mais acentuado quando se vinha de 4 campeonatos conquistados e sonhávamos, com toda a legitimidade, com o penta que podia, e devia, diga-se sem rodeios, ter acontecido.

Mas não aconteceu. E como tudo na vida podemos tentar encontrar situações simplistas que agradam à maioria (por exemplo: a culpa é do treinador) ou tentar perceber a sério o que aconteceu, o que é um aborrecimento, tem menos apoiantes, mas é muito mais eficaz para o futuro.

Indo directo, então, ao assunto: a não vitória do Benfica, no meu ponto de vista, prende-se com a triste combinação de 5 factores:

1. Arrogância
2. Falta de foco
3. Falta de visão estratégica
4. Falta de paixão pelo Clube
5. Falta de capacidade de reacção aos ataques externos

Passemos, então, à explicação de cada um deles:

1. ARROGÂNCIA

O mais óbvio e o mais claro dos 5 pontos. É um clássico. Durante alguns anos dei aulas de Marketing Estratégico na universidade e explicava aos meus alunos os erros de grandes empresas que, por arrogância, perderam a liderança.

Quando se ganha muito – e o Benfica ganhou muito – tende-se a desvalorizar os outros, a sua fome de ultrapassar quem lidera, a sua inteligência, o seu talento e a sua argúcia. Há um momento que quem lidera se julga dono de verdade e ganhar parece quase um direito dado por Deus.

Foi neste contexto que ouvimos que o Benfica estava 10 anos à frente da concorrência. Foi neste contexto que vimos Nuno Gomes a ser afastado do Seixal. Foi neste contexto que ouvimos numa Assembleia Geral o Presidente dizer que Svilar passado um mês ou dois ia ser o melhor guarda-redes a jogar em Portugal.

Ninguém está destinado a ganhar. Ganham os que trabalham mais, ganham os que querem mais ganhar e, normalmente, ganha-se enquanto se tem humildade para reconhecer o valor aos outros. Quando se acha que se é muito melhor do que os outros, quando se acha que se está 10 anos à frente dos outros, estão abertas as comportas da desgraça. E isso aconteceu.

O Benfica vendeu, facturou, fez negócios, encaixou dinheiro, mas esqueceu-se de se reforçar convenientemente.

O que muitos disseram é a verdade: um Porto intervencionado e o Sporting liderado por alguém que não consegue ser equilibrado emocionalmente fez pensar a quem preside ao Benfica que o penta era fácil. E é isso que choca a maioria dos Benfiquistas. Há um sentimento em toda a nação Benfiquista de que não se fez tudo que estava ao nosso alcance para se ser de novo campeão. Esse sentimento existe porque, de facto, não se fez tudo que seria possível e exigível para se ser campeão. Basta olhar para a baliza e está tudo dito. E isso é tão mais imperdoável quando de podia ter feito história, podia-se ter ganho o 5º campeonato seguido, mas sempre pareceu que tal não era o objectivo principal para quem lidera o Benfica.

Luís Filipe Vieira não estava a contar com o factor Sérgio Conceição que pegou num conjunto de jogadores renegados e outros sistematicamente perdedores e fez deles campeões. A vontade de ganhar da estrutura do Porto foi, incompreensivelmente, maior do que a nossa. É quase paradoxal falarmos da necessidade de investimento no Benfica e quem ganhou foi quem esteve impedido de investir. Mas o Porto injectou energia nova com um treinador brutalmente aguerrido e os tais jogadores anteriormente rejeitados encontraram solo fértil para ganharem.

É bem verdade que estivemos perto de ganhar, mas não é menos verdade que isso se deveu à vantagem que trazíamos de outras épocas, de termos jogadores campeões, bicampeões, tricampeões e tetracampeões. Mas essa vantagem, perante a visível debilidade dos nossos adversários, em vez de ter sido implacavelmente aumentada foi delapidada de uma forma tão triste como revoltante.

A arrogância passou, sem dúvida, a sua factura. E foi pesada.

2. FALTA DE FOCO

O Benfica, e isso parece-me evidente, perdeu o seu foco. Fala-se de hotéis, de rádios, de um colégio, de um Seixal de uma dimensão difícil de entender. Fala-se de milhões investidos em tudo, menos no que deveria interessar que é a equipa de futebol.

Há, de facto, uma enorme dispersão e uma gigante falta de foco. O Benfica tem que saber que o seu centro vital é a equipa de futebol e aí exige-se o máximo, sempre, mesmo que se tenha ganho muito no passado.

Qualquer pessoa normal aceita não ganhar sempre, mas não aceita que não se tenha feito tudo o possível para ganhar.

E, neste ano, o futebol e a sua equipa pareceram estar sempre em segundo plano nas preocupações de quem lidera o Benfica.

A falta de foco e a pouca cautela levaram a fortes dissabores ao Presidente do Benfica na sua vida privada e temo que o Benfica esteja a ser arrastado para o mesmo, sucedendo-se vários projectos despesistas que se não correrem como o projectado poderão ter nefastas consequências para a saúde financeira do clube.

Neste momento, esta demasiada efervescência já fez uma vítima: a equipa principal de futebol do Benfica. Há demasiada dispersão e perdeu-se o foco.

3. FALTA DE VISÃO ESTRATÉGICA

Ao fim de tantos anos como Presidente e com Domingos Soares de Oliveira ao seu lado, parece-me incompreensível como a estrutura do Benfica não percebeu como teria que abordar esta época.

Os milhões não investidos no futebol podem significar a perda de mais de 40 milhões de euros se não formos à Champions, ao mesmo tempo que estamos a permitir que outros se fortaleçam à nossa custa.

Esses 40 milhões poderiam servir para comprar 2 ou 3 craques que melhorassem, e muito, a qualidade do plantel à disposição do treinador. No jogo contra o Porto, bastava olhar para o banco do Benfica (Svilar, Luisão , Samaris, Seferovic, Salvio, Eliseu e João Carvalho) e percebia-se qua algo de errado tinha sido feito na preparação da época.

Uma equipa que não se reforçou conveniente e que não ganhou internamente e que fez uma figura ridícula na Europa e, portanto, não valorizou os seus principais activos que são os jogadores.

Provavelmente com a excepção do Ruben Dias, não há ninguém no plantel que se tenha valorizado a sério.

Assim, o Benfica de hoje está mais fraco do que o Benfica de há uns anos. Não valorizou activos, não se reforçou como marca, andou a perder prestígio na Europa e ainda permitiu aos adversários directos a possibilidade de entrarem na maior competição do mundo deixando-nos a nós em sérios riscos de lá não irmos.

Em vez de darmos a estocada final aos nossos adversários que estavam ambos à nossa mercê, demos-lhe nova vida e um novo fôlego. É totalmente incompreensível.

E tudo isto aconteceu num cenário, como dizia no outro dia um comentador, em que Domingos Soares de Oliveira de desmultiplicou em entrevistas de auto-elogio, dizendo que o Benfica estava muito forte financeiramente. Se isso é verdade, ainda mais grave se torna a miopia estratégica de não ter reforçado a equipa de forma a não dar qualquer hipótese aos nossos concorrentes.

Um Benfica penta teria, quase seguramente destroçado o Porto que provavelmente afastaria Sérgio Conceição que facilmente se percebe que tem mau feitio e deve conviver pessimamente com cenários desfavoráveis e teria deixado o Sporting fora da Champions agravando, ainda mais, a crise financeira que é bem visível, mesmo com os inexplicáveis perdões que a banca intervencionada lhes fez.

4. FALTA DE PAIXÃO PELO CLUBE

Este ponto é sensível, mas não posso deixar de o referir porque o sinto: num ano que podíamos chegar ao penta, e num ano em que foi introduzido o VAR, só um gestor com um coração de pedra, sem o mínimo de paixão, é que não faz o possível e o impossível para ganhar o título.

Há uma excessiva visão empresarial do Clube e uma estrutura que não respira Benfica com o sportinguista Soares de Oliveira e o portista Paulo Gonçalves, com o Seixal entregue a quem veio do Sporting e o mesmo na Comunicação.

Tudo isto somado afastou a paixão e vontade de ganhar que deveria ter existido neste momento. Como expliquei atrás, a ausência de investimento acaba por sair cara, mas é absolutamente reveladora que esta opção de ter tanta gente não Benfiquista e não identificada com o Benfica na estrutura tem que acabar. O Benfica precisa de gestão, mas precisa de amor e paixão. Se amor e paixão tivessem existido estávamos a comemorar o penta.

5. FALTA DE CAPACIDADE DE REACÇÃO AOS ATAQUES EXTERNOS

Se até aqui é tudo mais ou menos incompreensível, este ponto ainda mais o é.

O Benfica foi vítima de um ataque sem precedentes o ano todo e durante quase a época toda fomos brindados com um silêncio ensurdecedor e com a conversa das instituições próprias que são lentas, como sabemos, e que não servem para limpara a honra nem a imagem de ninguém.

Os inocentes defendem-se com garra, com firmeza e com indignação. Os vouchers são ridículos e os mails pouco ao nada revelam. Tantos anos de mails vasculhados e tão pouca coisa neles. Já o caso e-toupeira parece-me bem mais grave e sugere-me a importação de métodos que Paulo Gonçalves deve ter aprendido noutras paragens.

Enfim, o que vimos foi um Benfica manietado sem capacidade de resposta adequada. Temos um Director de Comunicação que não existe e que se devia ir embora de imediato. A permanência de Paulo Gonçalves na estrutura do Benfica é extremamente embaraçosa e depois deixamos a defesa do nosso nome a pessoas como o José Marinho ou Pedro Guerra, sendo que este último evidencia uma gigante dificuldade em lidar com a verdade.

Urge fazer uma purga no Benfica. Luís Bernardo tem que sair e dar lugar a quem sabe. Paulo Gonçalves deveria sair pelo próprio pé antes que cause novos embaraços ao Clube. E o Benfica tem que se dissociar de Pedros Guerras e de José Marinhos se quer voltar a ter alguma credibilidade.

Estamos perante gente que não serve para representar o Benfica e os seus valores.

CONCLUSÃO

Está tudo mal no Benfica? Não.

Viemos do maior ciclo de vitórias seguidas em campeonatos. Por esse facto devemos estar agradecidos. Eu estou. Mas as vitórias não serviram para nos engrandecer ainda mais. Saímos deste ciclo, e de uma forma paradoxal, mais frágeis desportivamente e em termos de imagem e reputação.

Luís Filipe Vieira tem que ter a capacidade de se reinventar, de rever a sua liderança e de fazer alterações numa estrutura desgasta, sem futuro e que não augura nada de bom ao Benfica.

Luís Filipe Vieira tem que segurar os melhores, e aqui refiro-me directamente a pessoas como José Boto que já provaram o seu extraordinário valor, tem que reforçar o sentido Benfiquista de quem o rodeia (é incrível que isto tenha que ser dito) e tem que se livrar de alguns que envergonham diariamente a ideia bonita que é o Benfica.

Luís Filipe Vieira tem que vestir a camisola da humildade e reencontrar a fome de ganhar. Tem que dedicar mais horas a pensar em ganhar do que em hotéis e colégios.

Luís Filipe Vieira tem que olhar para o Benfica com paixão e não apenas como uma empresa. Tem que perceber que por muito que se ganhe, no Benfica tem que se dar sempre tudo para ganhar mais. Até ao limite.

Finalmente, Luís Filipe Vieira tem que cuidar, com todo o carinho do mundo, do bom nome do Benfica, coisa que, infelizmente, a estratégia do silêncio incomodativo não tem feito.

Pelo meu lado continuarei a contribuir com as minhas opiniões. Sempre a pensar no Benfica e sempre com o intuito de ajudar.

Quero o sucesso do Benfica e nunca fui adepto do “quanto pior melhor”.

Quero que Luís Filipe Vieira seja capaz, rapidamente, de voltar a encontrar o rumo certo para o Benfica. Esse rumo terá que passar por voltar a focar-se no que importa, em reforçar a equipa de futebol e a sua estrutura e por aumentar, fortemente, as doses de paixão e amor pelo Clube.


2 comentários:

  1. Parece não haver a mínima dúvida que Luís Filipe Vieira dividiu o SLB, colocando indivíduos anti-benfiquistas em lugares-chave ao mesmo tempo que "correu" com aqueles que lhe podiam fazer frente. Tem que se considerar essa estratégia como o uso do poder para reforçar a posição dominante, destruindo os obstáculos incómodos. É claro que após vários anos ao lado de Pinto da Costa, quer mostrar que consegue fazer o mesmo. Só que, para atingir esse patamar teria que, em vez de infestar o SLB de gente que o odeia, montar um esquema mafioso como o que vem actuando em Portugal há cerca de 40 anos e através do qual são conseguidos imensos triunfos no sector desportivo. Nos rivais do Benfica não trabalham nem são admitidos colaboradores que não sejam das cores deles, para evitarem as fugas que acontecem no SLB. Mais, se quem trabalha nesses clubes utilizar alguma vez umas cuecas encarnadas, nunca lá mais põe os pés! Aqui está a diferença principal entre o SLB e os outros. Eles protegem-se e usam tudo para se reforçarem, enquanto no Benfica quem comanda até tem medo de abrir as boca! Montam-se equipas de várias modalidades que mal defrontam esses rivais encolhem-se, perdem e são gozadas. É preferível ter menos modalidades e ganhar muitas vezes do que ter muitas modalidades e só ganhar de vez em quando. Os investimentos bem feitos rendem muito! Ganhar campeonatos gastando 90 M de euros com cada um, como no tempo do amigo Jorge, só para mostrar obra já não serve. O passivo ficou muito alto e depois aperta-se onde não se deve.

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