sábado, 16 de dezembro de 2017

Decálogo de Bruno de Carvalho para crédulos e distraídos


1. Todos sabem que sou o Presidente do Sporting, o maior clube do mundo porque sou o seu Presidente. Claro que ser Presidente do Sporting é uma glória, mas prezo mais ser o Presidente, só Presidente. O Presidente Bruno de Carvalho, o único, o incopiável. 
2. O mundo da velha realidade já não existe, o que hoje existe é a realidade do kitsch, do espectáculo, dos estúpidos consumistas de quinquilharia. O que o público quer não é o real clássico, mas o símbolo de massa, não é o Sporting, é o Bruno de Carvalho com o seu estilo denso e irrecusável para consumo. Comigo o Sporting chegará evidentemente aos 22 merecidos títulos nacionais. E sempre conseguirei passar a ideia de que as finanças leoninas estão bem, para isso temos, obviamente, sobrinhos para as emergências. 
3. As massas não querem verdade ou mentira, querem apenas alguém que as dirija com pulso enérgico e lhes indique os caminhos adequados. Dado que comando no facebook e sou aceite como suserano da mídia e por isso me procuram de manhã à noite a partir dos jornalistas que lá coloquei, compete-me decidir o que é verdade e o que é mentira. E se é mentira, torno-a verdade. Eis por que sou amado pelos sportinguistas e odiado pelos lampiões e sportingados. Après moi, le déluge
4. A sociedade do espectáculo exige regras especiais. Eu dou-as. Longe de mim ser a múmia do Pinto da Costa ou o chatarrão do Vieira. Como sou do mundo da alteridade criadora, escroque sim mas educado e jovem, como sou fogoso, inventivo e neo-malandrim, digo o que me apetece, faço o que bem entendo - aí compreendidas as caretas que as massas amam - e estou sempre ao ataque. Sou o Ronaldo do boxe simbólico e imagético contra os lampiões dos vouchers e dos emails. E não há castigo que me castigue. Nem cocaína que me cocaíne.
5. Vouchers, sim. Claro que todas as equipas os dão, mas compete-me mostrar que apenas eu e o Sporting os podem dar com justiça. Fui capaz de criar uma teoria que leva as massas a acreditar que os vouchers dos lampiões são criminosos. Os néscios têm de ser sempre lubrificados dessa maneira. 
6. Emails, sim. Deu trabalho entrar na caixa do correio electrónico dos lampiões, mas valeu a pena. Os camaradas do Pinto da Costa fizeram um bom cibertrabalho e agora temos gigas de emails que nunca mais acabam. Conseguimos passar a mensagem que tudo foi hackeado na Nova Zelândia. Assim jamais seremos penalizados. Diga-se que os emails devem ser do domínio público, determinei isso em sintonia com o Pinto da Costa. 
7. O que mostram os emails? Mostram o mundo privado dos lampiões, mostram o rei nu. Dá prazer, dá gozo ver o Benfica nuzinho, ui se dá. A nossa técnica, bem instrumentalizada pelo aliado Marques, consiste em transformar emails em crimes imediatos. Mesmo que os emails nada digam de árbitros condicionados basta eles falarem em árbitros para nós condicionarmos os emails e, portanto, fazê-los dizer o que queremos. E mesmo se os intervenientes dos emails não são funcionários do Benfica nada custa passar a ideia de que são. Não há fogo sem fumo fiel. Depois é só criar o espectáculo de circo para as massas com os títulos sonantes do Record, do Correio da Manhã, da Sábado e por aí fora. Jornalismo consiste em manipular títulos, aniquilando a realidade e liquifazendo a razão. Sou mestre nisso, com cachecol ou sem ele. 
8. Hoje as polícias e os tribunais estão envelhecidos, pertencem à pré-história, hoje há polícias e magistrados de um tipo novo, de um tipo kitsch que as massas adoram, que são os jornalistas, os facebookistas e os twitterianos dos nossos exércitos electrónicos. Os julgamentos são feitos por eles, as condenações acontecem agora, definitivamente, com eles. E eu, Bruno de Carvalho, sou em Portugal o artífice do novo paradigma do judiciário e do judicial. Eu idealizo, o Saraiva tempera e o Pinto da Costa age através do cozinheiro Marques no preparo da refeição mediática. Eu, o Pinto, o Saraiva e o Marques somos os novos quatro cavaleiros da Távola Redonda da Santa Aliança. 
9. Comandamos as massas quando criamos e manipulamos os símbolos de persuasão e ordem que elas querem. Dentro de cada labrego está o desejo veemente de um Bruno de Carvalho. É o labrego quem cria o tirano. 
10. Falam muito de mim, atacam-me muito, sim, eu sei. Mas isso faz parte das minhas técnicas de manipulatórias de imagens e de símbolos, eu desejo exactamente isso. Quanto mais falarem de mim, menos falarão dos outros e mais seguirão as minhas palavras, as minhas directivas e as minhas homilias. Fabrico as pessoas que quero e faço-as querem-me. As massas amam os tiranos, precisam deles para se sentirem protegidas. Em cada labrego mora o desejo de um Bruno de Carvalho. Eu sou, no meu populismo, o seu pai, simbólico, necessário e eterno.

2 comentários:

  1. Lúcido e brilhante.
    Dá gosto ver alguém que faz uso da sua cultura e do seu conhecimento para esclarecer humorizando.
    Pena que nenhum lagarto compreenda sequer um destes 10 pontos. Os sportinguistas, que os há, é que estarão a passar o que muitos de nós passámos com o Vale e Azevedo.
    Com uma diferença, nem o Vale e Azevedo era um grunho como este, nem o Benfica estava tão acrítico e acéfalo como o rebanho que segue este novo messias, quiçá escorados num recalcamento freudiano com origens num complexo de inferioridade insanável.

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  2. Obrigado pelo incentivo. Benfiquemos sempre!

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