A primeira observação que faço neste post consiste em abordar a figura do jornalista do CM que pode ser visto neste vídeo colocado no facebook aqui. Reparem na primeira pergunta do jornalista a César Boaventura, agressiva, insolente, a saber: corrompeu jogadores do Marítimo? Depois juntem essa pergunta às outras que o jornalista foi fazendo sem cessar, bem como aos seus comentários, de forma violenta, de forma absolutamente cruel. Do princípio ao fim, o jornalista metamorfoseia-se no grande acusador, no grande inquisidor público, no polícia-mor, no procurador-geral dos media e no juiz. Ele é ao mesmo tempo essas personagens e o tribunal, é três ou quatro em um. Perguntas e comentários são condenações implícitas, severas, em tom de ultimato.
A segunda observação: o cenário do interrogatório aparece colado a imagens de vídeos nas quais são vistos demoradamente dirigentes do Benfica. Por outras palavras: o teatro incriminatório regido pelo jornalista-inquisidor-polícia-procurador-juiz do CM cobre ao mesmo tempo os dirigentes do Benfica, implicitamente havidos como ligados a Boaventura e, por consequência, também culpados.
A terceira e última observação diz respeito à mediacracia. Como observou o jornalista François-Henri de Virieu, criador do termo, os media já não são "meros colectores, crivos,
transportadores e difusores de informações, mas (...) um novo princípio organizador
da vida social" que "prolonga e reforça os poderes anteriores", ao mesmo tempo que "perturba as suas relações tradicionais e dá um peso considerável a novos actores que
destronam cruelmente os especialistas, os intelectuais e os políticos." O jornalista-procurador-juiz acima apresentado é um actor privilegiado da mediacracia televisiva. O seu tipo social só tem êxito quando, reiteradamente, transpõe e manipula imagens e símbolos num quadro cerimonial que, pela televisão, pela imediaticidade imagética e vocabular, descerebraliza e dá corpo à contaminação emocional imediata. Assim é muito fácil produzir culpados em série, é muito fácil produzir o assassinato cívico (expressão do advogado do Benfica, Carlos Pinto de Abreu). Foi o que se fez e se faz com César Boaventura. O CM e, especialmente, a CMTV, são exemplares no processo de produção de assassinatos cívicos da mediacracia.
Brilhante análise do " modus operandi" tão em voga nos mídia portugueses com especial relevo no execrável canal televisivo que dá pelo nome de CMTV. A tentativa de, escorada na força do que se designou apelidar de 4º poder, de tentar persuadir e derrubar instituições e figuras representativas de relevo na realidade portuguesa actual, em deliberado,premeditado e condenável julgamento popular que a peça acima descrita tão bem descreve.
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